Verdadeira irrealidade

Viver o irreal. Não é isso que faz um ator? Reinventa sua realidade, adapta seus conceitos, estuda outros trejeitos de tornar-se o mais diferente possível daquilo que diz ser  o seu próprio ser. Um alter ego, talvez. Uma outra face multifacetada, capaz de demonstrar os melhores e os piores estados psicológicos de alguém real ou irreal o bastante para acreditar-se impossível sua inexistência. Mas não vale viver uma vida fake em prol de ter o que sempre quis, ou ser o que sempre sonhou. Mas, com todas as suas precauções, vale viver da vida fake visando ter o que sempre quis e ser quem sempre sonhou.

shakespearework

Familiarizar-me com as mentiras sentidas da melhor forma possível não está sendo uma representação prazerosa. Fluída facilmente, mas frequentemente exigente. E obviamente, não é nem deveria ser tão fácil quanto parece, ao deixar-se ir de todo para quem presencia os fatos do palco. Não consigo chorar.

Chorei antes, durante e depois na festa de formatura do ensino fundamental em passagem para o ensino médio, que eu mudei de escola. Não é fácil abandonar uma escola que já era uma tradição na sua vida. Foram 8 anos. Cinco minutos de concentração seriam suficientes pra me desidratar todo e começar a soluçar sem parar, mas agora só me fizeram uma pequena hidratação aos olhos mel.

Chorei e fiz mais do que deveria quando soube do Henrique, e sofri com uma separação que sempre foi presente. Ao lembrar agora, não choro e nem consigo ao mínimo marejar o globo ocular.

Chorei antes da minha última noite de sex, drugs & eletronic, fui magoado durante, usado como objeto sexual o tempo todo, onipresente no seu pensamento, ausente onde eu pensei que estaria por uma única vez. Queria mandar tomar no cú, mas já eram outros que controlavam minha mente, quase o Seu Etanol e a Dona Poeira. Chorei depois ao ver o choro da mulher da minha vida, a mulher que me deu a vida, a mulher que fez a minha vida. Arrependimento quase matou, mas agora já foi e não choro nem de lembrar da mamãe e seus olhos inchados. (Me desculpe, me desculpe…) Mas fez meus olhos marejarem, que infelizmente logo secaram.

O ponto seguinte é quase insignificante, mas ter uma briga feia com a pessoa desejada (que a Irmã Yasmin não trouxe em 7 dias), não foi fácil de enfrentar. Umas poucas lágrimas de raiva, mas nada realmente grande comparado ao anterior. Minha superação me deixou tão feliz, que agora não chorei de raiva, nem de mágoa, nem de cacete nenhum.

Obviamente posso considerar-me uma pessoa feliz, e sou feliz.
E de tanta felicidade, sou um ator de glândulas lacrimais secas,
quase impossíveis de produzirem lágrimas de tristeza.

13 comentários em “Verdadeira irrealidade

  1. Sem essa arma que é as glandulas lcrimas, como poderiamos limpar nosso espírito?! gritar?esperniar?não vejo maneira mais eficaz do que chorar.Chorar é a forma de desintoxicarmos a mente e “jogarmos” para fora tudo o que dentro de nós é demais, sendo raiva, felicidade ou ódio.E através de uma gota, esses sentimentos são liberados. Às vezes chorando por raiva, eu imaginaria outra forma eu teria de soltar essa raiva?! penso…e penso…, e vejo que não há outra forma.

    “Portanto Chorar não só faz bem como é necessario.É melhor chorar antes, do que chorar depois!”.

    Curtir

Deixe um comentário